Quem são os padres casados?

Em quase todos os países existem associações de padres casados, inclusive na Índia, onde a porcentagem de todos os cristãos não chega a 5%. Em âmbito mundial há a Federação Internacional de Padres Casados (a Assembléia Geral se reunirá em Madri em setembro deste ano). No âmbito continental, temos a Federação Latino-Americana para a Renovação Sacerdotal, cujo secretário executivo é o psicanalista brasileiro José Ponciano Ribeiro (padre casado).
Uma das organizações congêneres no Brasil é conhecida pela sigla MPC – Movimento de Padres Casados (a mesma sigla entre os evangélicos tem outro significado: Mocidade para Cristo). O 14º Congresso Nacional do MPC católico acontecerá em São Luís do Maranhão nos próximos dias 11 a 14 de julho.
Por serem muitos, por desejarem ardentemente a abolição do celibato obrigatório e por não terem abdicado, muitos deles, a vocação para servir a Deus, os padres casados estão se organizando cada vez mais. Entre as associações existentes, é possível mencionar: MOCEOP (Movimento Celibato Opcional, na Espanha), CCC (Catholics for a Changing Church), MOMM (Movement for the Ordination of Married Men), CITI Ministries (Celibacy Is The Issue), Parish Watch, Justice For Priests and Deacons, We Are Church, e assim por diante. Dentro do Movimento dos Padres Casados do Brasil está a Associação Rumos, antes denominada Centro de Padres e Religiosos Egressos. Essa organização publica há vinte anos o jornal Rumos.
A quantidade de padres casados no Brasil é uma das maiores do mundo. O número de egressos (5 mil) é quase igual à terça parte dos padres no exercício do ministério (16 mil). De acordo com Áureo Kaniski, na capital do Espírito Santo vivem 119 padres – 73 na ativa (61,3%) e 46 casados (38,7%). De uma turma de 29 formandos de 1958 do Seminário Maior São José, de Mariana, Minas Gerais, sete já morreram (24,1%), oito se casaram (27,6%) e 14 continuam no sacerdócio (48,3%).
Os padres casados gostam de lembrar que 39 papas foram casados, inclusive (segundo a tradição católica) o primeiro deles, o apóstolo Pedro, cuja sogra Jesus curou (Mt 8.14-15).
Não é preciso ser padre casado para enxergar a tremenda injustiça que a Igreja Católica Romana comete contra este numeroso grupo de egressos. Além de ordenar homens casados de outros ritos católicos e de outras denominações cristãs não católicas (como os cem pastores que deixaram recentemente a Igreja Anglicana por discordarem da ordenação de mulheres), as autoridades eclesiásticas excluem do sacerdócio os padres que se casam e mantêm no altar aqueles que têm amantes do sexo oposto ou do mesmo sexo, e aqueles que cometem abuso sexual e o crime da pedofilia. Enquanto estes padres celebram a missa, batizam, ouvem confissões e perdoam pecados alheios em nome de Deus e ainda pregam, aqueles que praticam o sexo dentro do sacramento (no caso da Igreja Católica) do matrimônio não podem oficiar cerimônia nenhuma. E o povo católico, em vez de protestar contra isso, “deplora mais o casamento do padre que o seu pecado”, como denuncia Marcos Noronha, que foi bispo da Diocese de Itabira na segunda metade da década de 60, no livro Marcos Noronha e a Igreja (p. 59). É por isso que o padre casado Aloísio Guerra, hoje com 72 anos e vigário da Paróquia de São Pedro Apóstolo, da Arquidiocese Ortodoxa Antioquina de São Paulo, em Recife, é obrigado a dizer que Roma valoriza mais o celibato (entendido apenas como ato de não casar) do que a castidade. Curiosamente, enquanto a lei do celibato é dos homens, a lei da castidade é de Deus. Aloísio Guerra ordenou-se padre em 1959. Permaneceu no sacerdócio católico apenas cinco anos, casando-se em seguida, aos 34 anos. Tem dois filhos e quatro netos. Autor do livro Celibato, Santo ou Safado?, Aloísio faz uma mistura de verdade com ironia para afirmar: “O único pecado grave, capaz de afastar o padre do ministério é o sacramento do matrimônio” (p. 30).
Em seu livro Obstinação Eclesiástica, o professor Áureo Kaniski, também padre casado, mostra-se revoltado ao lembrar-se de um reitor de seminário que, no dia em que comemorava mais um aniversário de ordenação, foi flagrado num motel de Maceió com o propósito de ter relações com uma menina de rua de 14 anos. O arcebispo daquela arquidiocese não encontrou forma de punir o formador de novos padres; mas, se este tivesse contraído matrimônio, seria muito fácil expulsá-lo do ministério.
Foram os padres americanos obedientes ao celibato e desobedientes à castidade que fizeram milhares de vítimas nos últimos dez anos nos EUA e obrigaram as dioceses daquele país a gastar entre 300 mil a 1 bilhão de dólares para pagar acordos extrajudiciários nos casos de abusos sexuais.
Uma coisa é abraçar o celibato por vontade própria. Outra é submeter-se a ele só por causa da vontade de abraçar a carreira religiosa. O primeiro brasileiro a tornar-se pastor evangélico foi o ex-padre José Manuel da Conceição. Embora desobrigado do celibato por ter se tornado pastor presbiteriano em dezembro de 1865, aos 43 anos, Conceição nunca se casou. A história de Frei Betto, 58 anos, é muito parecida com a história do famoso pastor anglicano John Stott, no que se refere ao estado civil. Ambos tiveram oportunidade de se casar e não se casaram. “Só não me casei”, lembra o dominicano, “porque as mulheres que me interessaram não se interessaram por mim e as que se interessaram por mim, eu não me interessei por elas...” Já o teólogo protestante, na sua juventude, gostou de algumas moças, mas foi protelando de tal maneira o casamento que acabou se envolvendo demais no ministério e não mais achou tempo para o matrimônio. Esse é o celibato que dá certo. Em carta a Ultimato, o cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho, 68 anos, professor do Seminário de Mariana e historiador, dá o seu testemunho:
Aproximando-me dos 50 anos de sacerdócio só tenho que bendizer a Deus pelo celibato e fico pensando como daria conta, até hoje, do que devo fazer pela evangelização se tivesse mulher e filhos para cuidar. Não me sobraria um momento para preparar homilias, artigos, sermões, aulas, atendimento aos fiéis. É preciso ler e reler 1 Coríntios 7.29-34.
Os padres casados alimentam a esperança da revogação do celibato obrigatório e a reintegração deles no ministério. “Ainda veremos padres casados ministrando os sacramentos”, garante Agenor Coldebella. Em Minhas Esperanças para a Igreja, escrito em alemão e publicado no Brasil pela Editora Santuário em parceria com a Paulus, em 1999, o professor emérito de teologia moral Bernhard Häring, morto em 1998, lembra que “não é preciso ser nenhum profeta para prever que isto [a exigência do celibato para a ordenação sacerdotal] vai acabar, logo que o centralismo ceda à constituição subsidiária da Igreja” (p. 153). Outro dia, o padre jesuíta Renato Hevia Rivas, 65 anos, ex-diretor da revista católica Mensaje, que deixou o sacerdócio para casar-se com uma advogada, declarou pela Televisão Nacional do Chile que “não existe nenhuma razão teológica de peso para manter o celibato, para proibir que padres se casem ou que irmãs celebrem missa” (Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação, no noticiário de 11 de junho de 2002). Aliás, de acordo com a pesquisa realizada pela Fundação Futuro, 62% dos católicos chilenos entrevistados entendem que os padres devem se casar.
Uma das previsões de Paulo diz respeito ao celibato impingido: “O Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns... proibirão o casamento” (1 Tm 4.1-5). Em nota de rodapé, a Edição Pastoral da Bíblia, publicada pela Paulus, explica:
Nos últimos tempos, isto é, entre a ressurreição e a segunda vinda de Cristo, multiplicam-se os mestres e doutrinas que adulteram a fé. Alguns desprezam tudo o que se refere ao corpo, condenando o matrimônio, proibindo alimentos e pregando exageradas práticas ascéticas (p. 1.531).
A Bíblia de Jerusalém comenta que “a condenação do casamento será uma das características do gnosticismo” (p. 1.647). A tradução da CNBB chama tal coisa de “ascetismo desvairado” (p. 1.557).
Ora, se é assim, por que não voltar atrás na formulação de uma obrigação que cheira a “exageradas práticas ascéticas” e que chega bem perto do “ascetismo desvairado”?
Uma das organizações congêneres no Brasil é conhecida pela sigla MPC – Movimento de Padres Casados (a mesma sigla entre os evangélicos tem outro significado: Mocidade para Cristo). O 14º Congresso Nacional do MPC católico acontecerá em São Luís do Maranhão nos próximos dias 11 a 14 de julho.
Por serem muitos, por desejarem ardentemente a abolição do celibato obrigatório e por não terem abdicado, muitos deles, a vocação para servir a Deus, os padres casados estão se organizando cada vez mais. Entre as associações existentes, é possível mencionar: MOCEOP (Movimento Celibato Opcional, na Espanha), CCC (Catholics for a Changing Church), MOMM (Movement for the Ordination of Married Men), CITI Ministries (Celibacy Is The Issue), Parish Watch, Justice For Priests and Deacons, We Are Church, e assim por diante. Dentro do Movimento dos Padres Casados do Brasil está a Associação Rumos, antes denominada Centro de Padres e Religiosos Egressos. Essa organização publica há vinte anos o jornal Rumos.
A quantidade de padres casados no Brasil é uma das maiores do mundo. O número de egressos (5 mil) é quase igual à terça parte dos padres no exercício do ministério (16 mil). De acordo com Áureo Kaniski, na capital do Espírito Santo vivem 119 padres – 73 na ativa (61,3%) e 46 casados (38,7%). De uma turma de 29 formandos de 1958 do Seminário Maior São José, de Mariana, Minas Gerais, sete já morreram (24,1%), oito se casaram (27,6%) e 14 continuam no sacerdócio (48,3%).
Os padres casados gostam de lembrar que 39 papas foram casados, inclusive (segundo a tradição católica) o primeiro deles, o apóstolo Pedro, cuja sogra Jesus curou (Mt 8.14-15).
Não é preciso ser padre casado para enxergar a tremenda injustiça que a Igreja Católica Romana comete contra este numeroso grupo de egressos. Além de ordenar homens casados de outros ritos católicos e de outras denominações cristãs não católicas (como os cem pastores que deixaram recentemente a Igreja Anglicana por discordarem da ordenação de mulheres), as autoridades eclesiásticas excluem do sacerdócio os padres que se casam e mantêm no altar aqueles que têm amantes do sexo oposto ou do mesmo sexo, e aqueles que cometem abuso sexual e o crime da pedofilia. Enquanto estes padres celebram a missa, batizam, ouvem confissões e perdoam pecados alheios em nome de Deus e ainda pregam, aqueles que praticam o sexo dentro do sacramento (no caso da Igreja Católica) do matrimônio não podem oficiar cerimônia nenhuma. E o povo católico, em vez de protestar contra isso, “deplora mais o casamento do padre que o seu pecado”, como denuncia Marcos Noronha, que foi bispo da Diocese de Itabira na segunda metade da década de 60, no livro Marcos Noronha e a Igreja (p. 59). É por isso que o padre casado Aloísio Guerra, hoje com 72 anos e vigário da Paróquia de São Pedro Apóstolo, da Arquidiocese Ortodoxa Antioquina de São Paulo, em Recife, é obrigado a dizer que Roma valoriza mais o celibato (entendido apenas como ato de não casar) do que a castidade. Curiosamente, enquanto a lei do celibato é dos homens, a lei da castidade é de Deus. Aloísio Guerra ordenou-se padre em 1959. Permaneceu no sacerdócio católico apenas cinco anos, casando-se em seguida, aos 34 anos. Tem dois filhos e quatro netos. Autor do livro Celibato, Santo ou Safado?, Aloísio faz uma mistura de verdade com ironia para afirmar: “O único pecado grave, capaz de afastar o padre do ministério é o sacramento do matrimônio” (p. 30).
Em seu livro Obstinação Eclesiástica, o professor Áureo Kaniski, também padre casado, mostra-se revoltado ao lembrar-se de um reitor de seminário que, no dia em que comemorava mais um aniversário de ordenação, foi flagrado num motel de Maceió com o propósito de ter relações com uma menina de rua de 14 anos. O arcebispo daquela arquidiocese não encontrou forma de punir o formador de novos padres; mas, se este tivesse contraído matrimônio, seria muito fácil expulsá-lo do ministério.
Foram os padres americanos obedientes ao celibato e desobedientes à castidade que fizeram milhares de vítimas nos últimos dez anos nos EUA e obrigaram as dioceses daquele país a gastar entre 300 mil a 1 bilhão de dólares para pagar acordos extrajudiciários nos casos de abusos sexuais.
Uma coisa é abraçar o celibato por vontade própria. Outra é submeter-se a ele só por causa da vontade de abraçar a carreira religiosa. O primeiro brasileiro a tornar-se pastor evangélico foi o ex-padre José Manuel da Conceição. Embora desobrigado do celibato por ter se tornado pastor presbiteriano em dezembro de 1865, aos 43 anos, Conceição nunca se casou. A história de Frei Betto, 58 anos, é muito parecida com a história do famoso pastor anglicano John Stott, no que se refere ao estado civil. Ambos tiveram oportunidade de se casar e não se casaram. “Só não me casei”, lembra o dominicano, “porque as mulheres que me interessaram não se interessaram por mim e as que se interessaram por mim, eu não me interessei por elas...” Já o teólogo protestante, na sua juventude, gostou de algumas moças, mas foi protelando de tal maneira o casamento que acabou se envolvendo demais no ministério e não mais achou tempo para o matrimônio. Esse é o celibato que dá certo. Em carta a Ultimato, o cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho, 68 anos, professor do Seminário de Mariana e historiador, dá o seu testemunho:
Aproximando-me dos 50 anos de sacerdócio só tenho que bendizer a Deus pelo celibato e fico pensando como daria conta, até hoje, do que devo fazer pela evangelização se tivesse mulher e filhos para cuidar. Não me sobraria um momento para preparar homilias, artigos, sermões, aulas, atendimento aos fiéis. É preciso ler e reler 1 Coríntios 7.29-34.
Os padres casados alimentam a esperança da revogação do celibato obrigatório e a reintegração deles no ministério. “Ainda veremos padres casados ministrando os sacramentos”, garante Agenor Coldebella. Em Minhas Esperanças para a Igreja, escrito em alemão e publicado no Brasil pela Editora Santuário em parceria com a Paulus, em 1999, o professor emérito de teologia moral Bernhard Häring, morto em 1998, lembra que “não é preciso ser nenhum profeta para prever que isto [a exigência do celibato para a ordenação sacerdotal] vai acabar, logo que o centralismo ceda à constituição subsidiária da Igreja” (p. 153). Outro dia, o padre jesuíta Renato Hevia Rivas, 65 anos, ex-diretor da revista católica Mensaje, que deixou o sacerdócio para casar-se com uma advogada, declarou pela Televisão Nacional do Chile que “não existe nenhuma razão teológica de peso para manter o celibato, para proibir que padres se casem ou que irmãs celebrem missa” (Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação, no noticiário de 11 de junho de 2002). Aliás, de acordo com a pesquisa realizada pela Fundação Futuro, 62% dos católicos chilenos entrevistados entendem que os padres devem se casar.
Uma das previsões de Paulo diz respeito ao celibato impingido: “O Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns... proibirão o casamento” (1 Tm 4.1-5). Em nota de rodapé, a Edição Pastoral da Bíblia, publicada pela Paulus, explica:
Nos últimos tempos, isto é, entre a ressurreição e a segunda vinda de Cristo, multiplicam-se os mestres e doutrinas que adulteram a fé. Alguns desprezam tudo o que se refere ao corpo, condenando o matrimônio, proibindo alimentos e pregando exageradas práticas ascéticas (p. 1.531).
A Bíblia de Jerusalém comenta que “a condenação do casamento será uma das características do gnosticismo” (p. 1.647). A tradução da CNBB chama tal coisa de “ascetismo desvairado” (p. 1.557).
Ora, se é assim, por que não voltar atrás na formulação de uma obrigação que cheira a “exageradas práticas ascéticas” e que chega bem perto do “ascetismo desvairado”?
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